Entrevista com Mirandinha: Ex-jogador da Caldense
“Eu tinha a testa calejada, de
tanto treinar cabeceio”. Isso resume a dedicação de um dos maiores artilheiros
da história da Caldense. Centroavante completo, o poços-caldense Gláucio Rodrigues fazia a alegria da torcida da
Veterana. Cabeceava como ninguém, possuía uma arrancada fortíssima, um preparo
físico invejável e ainda batia bem com as duas pernas. Foi apelidado de Mirandinha
pela semelhança com o antigo jogador do São Paulo e daí pra frente, virou
lenda.
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Renan Muniz e Mirandinha durante a entrevista. |
Mirandinha - Comecei no Santa Rosária onde
fui artilheiro do campeonato regional. Me destaquei e o Mané da Pinta me trouxe pra
jogar na base da Caldense em 77. Fiquei cerca de três meses treinando e já
estreei no profissional em um amistoso contra a Portuguesa, na época tinha 16
pra 17 anos. O Carlos Alberto Silva me deu uma oportunidade e aproveitei bem,
ganhamos de 1x0 e fiz o gol da vitória. Na semana seguinte começou o mineiro de
78, jogamos contra o América e ganhamos de 2x0, eu marquei os dois. Na época
tinha o Cafuringa que era titular absoluto na posição, mas quando comecei a
jogar o treinador teve que mudar ele para ponta, pra meia, pois de centroavante
eu não o deixava jogar (risos). Atuei pela Veterana até 80 e depois retornei
nos anos 90. Mas antes disso fui para o Panathinaikos da Grécia, junto com
outros dois da Caldense, mas eles ficaram por pouco tempo lá e voltaram pro
Brasil. Na época eram poucos jogadores que iam pra fora do país. Não me adaptei
com a alimentação e comunicação e fiquei somente um ano em Atenas. Fui vendido
para o Cosmos dos Estados Unidos na época em que Pelé jogava lá, mas eu era
muito novo e não tinha muita instrução e decidi voltar pro Brasil. Em seguida
fui para o Bangu e tive duas propostas do Flamengo, mas como o Bangu pagava
melhor, acabei não indo para o rubro-negro. Se eu tivesse ido, poderia ter tido
mais sucesso no futebol, quem sabe até uma seleção brasileira. Mas minha
carreira foi muito boa, joguei por cerca de 17 equipes.
Qual foi sua partida inesquecível pela Caldense?
Em 1979 jogamos contra o Internacional
que foi campeão brasileiro invicto, eles tinham um dos melhores times do
planeta e saímos na frente com um gol meu. Foi um contra-ataque onde o Paulo Roberto
foi ao fundo e cruzou, e eu cabeceei para o fundo da rede, por cima do Benítez.
Depois eles empataram e, aos 44 do segundo tempo, chutei uma bola no travessão.
Ela quicou em cima da linha e voltou para o Márcio, mas ele não conseguiu
marcar. O jogo terminou em 1x1. Foi uma partida memorável.
Você tem alguma história engraçada na Veterana?
Certa vez nos reunimos para
almoçar e tinha um cara “meio gay” que servia almoço pra gente. Naquela época
nosso grupo era cheio de conversa fiada, muitas brincadeiras. E, durante a
refeição, esse rapaz parou na mesa e perguntou: “gente, quem é o Gilberto
Voador?”, aí o pessoal ficou tudo espantado olhando pra cara do Gilberto e o
rapaz disse: “ahh, então você que é o Gilberto Voador? Eu quero ver você voar
em mim Voador!”. O pessoal nem almoçou mais, de tanta risada, a gente pega no
pé do Gilberto até hoje por causa dessa história (risos).
Como foi sua vida depois que parou de jogar?
Mexi com escolinha de futebol
em Poços por um tempo, mas acabei indo para o Rio trabalhar no Bangu, fiquei lá
por alguns anos. Mas agora que voltei a morar aqui, gostaria de dar
oportunidade aos atletas da região que tem potencial, por isso pretendo iniciar
um trabalho com categoria de base na cidade com jovens de 17 a 20 anos, pois
tenho contato com grandes treinadores do futebol brasileiro.