A importância da preparação física no futebol
Entrevista com Caldiron
Luiz Carlos Caldiron sempre foi
um apaixonado por futebol. Na adolescência, praticava o esporte e sonhava em
ser um jogador profissional. Mas quando chegou a hora de fazer faculdade, optou
por cursar Educação Física e abriu mão de tentar se tornar um atleta. Começou
como auxiliar de preparação física no Valério e, dali em diante, deu sequência
na carreira. Chegou à Caldense em 2008 para assumir o departamento de
preparação física e fisiologia da Veterana, onde permanece desde então.
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Renan Muniz e Luiz Carlos Caldiron durante a entrevista. |
O preparador físico é um profissional que deve estar sempre se
atualizando e estar a par das novas tendências do futebol moderno. Como você
lida com isso?
Cada ano é um aprendizado.
Temos sempre que inovar, trazer novidades e nos atualizar. Por melhor que seja
o trabalho realizado, sempre há algo a ser melhorado. Tenho a felicidade de ter
feito o curso de fisiologia do exercício e tenho contatos na USP que sempre me
mandam as novidades da área. Quando chega algo novo, procuro fazer uma análise
para adaptar os treinamentos ao futebol profissional e assim obter os melhores
resultados.
Antigamente os resultados obtidos por um time era creditado em sua
maior parte à qualidade técnica da equipe, hoje as condições físicas exercem
também um grande peso. Até que ponto o preparo físico dos atletas influencia o
desempenho de um time?
A preparação física no futebol
mudou muito. Talvez hoje ela seja mais importante até do que a preparação
técnica. O nível de exigência de um atleta hoje durante os 90 minutos é muito
grande. Tem jogadores que chegam a correr 16 km em um jogo. O preparo físico é
fundamental para que o jogador consiga realizar as funções que o treinador o
designou. O que temos procurado fazer é aliar diferentes tipos de trabalhos.
Desde os primeiros dias de treinamento oferecemos uma preparação física intensa,
juntamente aos treinamentos com bola e treinos táticos. Dessa maneira o atleta trabalha
inúmeros fatores simultaneamente sem perceber e assim alcançamos nossos
objetivos de maneira mais rápida e envolvente.
Como é sua rotina de trabalho?
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Caldiron, preparador físico da Caldense |
Costumo dizer que para cada
setor do campo tenho um projeto diferente. Durante os treinos, amistosos e
competições, estou sempre analisando o desempenhos dos jogadores para poder
fazer uma análise de como trabalhar com cada um e direcionar as atividades com
base em dados. Cada atleta tem sua característica, por isso é importante saber
aproveitá-las para extrair o máximo de potencial do grupo como um todo.
De que forma o seu trabalho muda no decorrer da temporada?
Na pré-temporada, muitas vezes
se pega um atleta que está há muito tempo parado, às vezes até seis meses. Em contrapartida
chegam jogadores que vinham atuando até pouco tempo. A partir daí temos que
submetê-los a baterias de avaliações físicas para determinar suas reais
condições e adequá-los à carga ideal de trabalho. Por isso sempre temos um auxiliar
de preparador físico, para podermos dividir a equipe em dois grupos e realizar
treinamentos de acordo com suas condições. No pós-jogo é a mesma coisa. Temos
que recuperar os atletas desgastados e dar condições aos que estão sem ritmo de
jogo para mantermos o equilíbrio do grupo.
É claro que o equilíbrio das características é o ideal. Mas existe
algum fator que seja mais importante de se trabalhar no cenário atual do
futebol?
O futebol hoje, por essa
questão da velocidade da bola, campos reduzidos, nos obriga a dar uma atenção
especial a dois fatores: força e velocidade. Quando digo força, me refiro a um
atleta que não se machuca, que seja resistente e consiga se manter sempre em
alta intensidade. Já o fator velocidade se resume em chegar ao gol adversário
com a maior rapidez possível e ao mesmo tempo, quando perder a bola, recompor o
setor defensivo rapidamente. Mas o diferencial está no componente genético, que
são as habilidades e técnica específica de cada jogador.
A comissão técnica de um time é composta por vários profissionais. De
que forma eles complementam e influenciam seu trabalho?
Eu comparo a comissão técnica
a um relógio. Tem engrenagem maior, tem engrenagem menor. Preparador de
goleiros, analista de desempenho, massoterapeuta, médico, fisioterapeuta,
massagista, treinador, auxiliar técnico, roupeiro, enfim. Cada um é uma
engrenagem. Todos tem que funcionar igualmente, pois se não o relógio vai atrasar.
É importante haver a troca de informações, o diálogo. Sempre após os treinos
conversamos para avaliar o que está sendo feito e definir o que iremos fazer. A
interação entre a comissão técnica é fundamental para que haja um equilíbrio no
grupo e assim engrandecer o rendimento do time.
Quais são as maiores dificuldades e alegrias da profissão?
A maior dificuldade é receber
atletas de outros clubes que não estão acostumados ao seu padrão de trabalho.
Jogadores com desequilíbrio muscular, falta de força, falta de flexibilidade. Isso
nos desafia a propor treinamentos para elevá-los a um alto nível em um curto
período, sem desgastá-los e sem correr risco de lesões. A maior alegria é
quando vejo um atleta que trabalhou comigo conseguindo realizar um bom trabalho
dentro de campo, exercendo seu papel tático com a mesma intensidade durante
todo o jogo e sendo elogiado pela imprensa e torcedores. Isso pra mim não tem
preço.
Texto e fotos: Renan Muniz.