“Vestir a camisa da Caldense não é pra qualquer um” – diz Fábio Paulista
O zagueiro-artilheiro, Fábio Paulista, chegou à
Caldense em um momento conturbado da história do clube. A equipe havia acabado
de ser rebaixada para disputar o módulo II do Campeonato Mineiro em 2008 e
estava perdendo muitos torcedores para o outro time que acabara de surgir na
cidade. Mesmo encarando tantas dificuldades, conseguiu se destacar e se tornou
um dos maiores zagueiros de todos os tempos da Veterana.
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Renan Muniz e Fábio Paulista durante a entrevista |
Como foi lidar com a
toda essa situação de disputar um módulo II, com o clube em crise e torcedores
desacreditados?
A gente teve que fazer um recomeço e as coisas
levaram um tempo para se encaixar. Na época o Jânio Joaquim era o gerente de
futebol e estava com a saúde debilitada, comandava o departamento de futebol
praticamente sozinho. Por eu ser o capitão da equipe, ele conversava muito
comigo e me pedia para conversar com os outros atletas para motivar os
jogadores. Foi um dos piores períodos da história da Caldense, o clube havia
perdido a credibilidade e os torcedores estavam divididos.
Em 2008 a Caldense
brigou pelo acesso até a última rodada e só não conseguiu o objetivo devido a
um gol mal anulado contra o Itaúna. Como foi o sentimento para o grupo?
Me lembro que nosso time estava muito melhor
tecnicamente nessa partida contra o Itaúna. O campo deles era muito pequeno,
gramado ruim, então o jogo foi nivelado por baixo. No finalzinho do jogo o
Renato Santiago fez um gol de cabeça, mas o árbitro anulou o gol, que foi
totalmente legítimo. Por fim acabamos perdendo por 1 a 0. Na rodada seguinte,
que foi a última, conseguimos vencer, mas não dependíamos só de nós e acabamos
ficando em terceiro lugar, o Uberlândia conseguiu o acesso juntamente com o
América. Ficamos a 1 ponto da classificação, se aquele gol não tivesse sido
anulado teríamos empatado o jogo e conseguido o acesso.
Principalmente no
interior, muitas vezes os torcedores das equipes de menor expressão reclamam de
manipulação de resultados a favor das grandes equipes. Você que já atuou por
diversos clubes, alguma vez já suspeitou de algo?
Eu não posso dizer que existe ou que não
existe. Nunca participei das reuniões das federações para saber o que acontece
nos bastidores da comissão de arbitragem, mas pela minha experiência dentro de
campo, algumas vezes já suspeitei de manipulação de resultados no Estado de
Goiás e em Minas Gerais.
De que maneira vocês
encontraram motivação para se reerguerem e começar tudo do zero no ano
seguinte?
O pior foi que não tinha calendário no segundo
semestre, não dava para manter a base do time. O clube não tinha dinheiro em
caixa pra tentar disputar alguma outra competição, mas aí entrou o trabalho do
Jânio. Ele conseguiu manter a equipe e nós continuamos treinando, mantemos a
base e trouxemos alguns jogadores para somar. Foi um trabalho muito difícil, um
grupo unido, que se cobrava muito. Graças ao nosso esforço, conseguimos o
acesso em 2009 e hoje a Caldense se encontra em um patamar bem diferente. Hoje
o clube chega às finais de Mineiro, tem futebol no segundo semestre, era isso
que eu cobrava da diretoria na época.
No jogo onde a
Caldense conseguiu o acesso você foi carregado pelos torcedores. O que isso
significa pra você?
Pra mim foi tudo, a consagração de um trabalho
bem feito. Até hoje me sinto muito bem em Poços de Caldas. A torcida reconhece,
o pessoal da imprensa também. Vestir a camisa da Caldense não é pra qualquer
um. É um clube diferente, de tradição. Tem uma história bonita, tem título
mineiro. Hoje o clube está de parabéns pelo trabalho que vem fazendo.
Ser capitão de um time
é uma responsabilidade muito grande. É muita cobrança dos companheiros e
principalmente do treinador. Como você lidava com isso?
Eu sempre fui acostumado a ser capitão, joguei
em mais de 30 clubes e em uns 10 fui capitão. E pra gente que faz contratos
curtos, de 3 ou 4 meses, rapidamente temos de nos adaptar e ir nos impondo. A
diretoria Caldense e os treinadores tinham confiança e mim e me deram essa
responsabilidade. Também tomei a iniciativa de bater de frente com a imprensa
local, que comparava um clube que havia acabado de ser criado na cidade com a
Caldense. Eu pedia pra respeitarem a história da Veterana e, pra você ver, hoje
só existe um clube dentro de Poços de Caldas.
Quais características fizeram
com que você fosse capitão em tantos clubes?
Eu sempre fui um jogador explosivo, de muita
cobrança, eu tinha uma liderança dentro de campo. Às vezes eu era um pouco
rude, pegava no pé do pessoal e isso é necessário. Sempre cobrei dos jogadores
para correr um pouquinho mais, ajudar na marcação, recompor. Por isso os
treinadores me davam essa responsabilidade.
Você ficou marcado na
Veterana por ter feito muitos gols, mesmo sendo zagueiro. Qual a importância do
pessoal da defesa ajudar o ataque?
Futebol é o conjunto. Na hora dos escanteios os
zagueiros, que normalmente são mais altos, costumam ir para a área tentar o
cabeceio. Na época o Luiz Eduardo foi o artilheiro do campeonato e eu fui o
vice. Ao longo do campeonato, consegui marcar 5 gols de cabeça e 3 de pênalti.
Essa era a minha forma de ajudar o ataque. Inclusive, acredito ser o único
zagueiro da história da Caldense a marcar dois gols no mesmo jogo. No módulo II
de 2009, na partida de ida, empatamos em 2 a 2 com o Itaúna e eu fiz os dois.
Texto e foto: Renan Muniz.